O bushcraft é uma actividade cuja tradução mais livre para
o português seria "artes do mato". Engloba todo um conjunto de técnicas
e capacidades de sobrevivência, adaptação e acção sobre o meio natural que já fizeram parte do passado e tradição humana em várias culturas
mas tem vindo a cair no esquecimento da população em geral, quer por
falta da sua prática, quer por serem consideradas por alguns como
ultrapassadas e desnecessárias. Falamos de coisas tão simples como saber
acender um fogo sem fósforos ou isqueiros, saber construir um abrigo, uma jangada
ou uma cesta com fibras naturais. Inclui ainda o conhecimento de como
fabricar uma corda, esculpir uma colher ou outros utensílios em madeira e
construir uma faca, machado ou ferramentas semelhantes. Estas são algumas das actividades que há algumas décadas eram bastante comuns, mas que com a industrialização
se tem vindo a perder. Não obstante o seu valor permanece imutável,
sendo estas técnicas e os princípios subjacentes às mesmas a base de
toda a sociedade industrializada. O praticante de bushcraft não
se propõe a reinventar a roda, apenas a saber como funciona, como a pode
fazer, e como a pode utilizar para resolver problemas. Toda a base da
evolução humana, e no fundo da própria sobrevivência depende de uma só coisa: capacidade de adaptação.
Torna-se necessário olhar para um objecto, um pedaço de madeira, barro,
couro ou pedra e não ver aquilo que o objecto é, mas aquilo que o
objecto pode ser. O bushcraft distingue-se de várias outras actividades, até da própria "sobrevivência"
como é vista pelo grande público no sentido em que vai para além do
"sobreviver a algo" num curto espaço de tempo, estando mais próximo do
"viver depois de algo" numa perspectiva de mais longo prazo. Daí a
importância de algumas preocupações, como conhecer os recursos de cada
região, as épocas de produção de cada planta, os animais de cada zona,
etc. A grande riqueza e mais-valia de prática de todas estas artes, com a
inclusão de técnicas de primeiros socorros,
etc, é o conhecimento do mundo e de nós próprios que nos torna mais
capazes e confiantes de ultrapassar os problemas, quer no quotidiano
quer em situações extremas, conhecimento esse que se espera que se um
dia vier a ser preciso, e nunca saberemos quando o será, nos possa ser
útil a nós e a quem de nós puder precisar na altura."
Antes da popularidade de Ray Mears e dos seus programas, o termo já tinha sido usado pelo escritor australiano, de origem irlandesa Richard Graves e professor de bushcraft canadiano Mors Kochanski. A palavra tem sido usada na Austrália pelo menos desde 1800.